Homem no Fim do Mundo
Sou um homem no fim do mundo. Não ofereço um lugar ou uma cena, mas sim um caminho, uma porta ou uma passagem. Para aqueles que já perderam tudo, que não encontram saída no mundo em que estão, eu resido no fim do mundo, e ofereço uma porta para outro lugar. Ou melhor, ofereço o fim, o último corredor antes da criação de um outro mundo. No caminho que sou, tenho espelhos, reflexos, alucionações. Aqui o suicídio é uma constante, até virar piada. Aliás, tudo vira piada, pois o humor é um dos meus métodos. Choraremos também. Aqui tem janelas de onde podem ver outros mundos, propostas e opções, como se fosse um pequeno experimento ou um ponto de partida depois do fim. Divido tudo em pedaços mínimos, fragmento o ser e a essência, disponho tudo diante daqueles que atravessam meu caminho, para que observem quem são, julguem e escolham o que deixarão para trás e o que levaram nas suas novas criações. Por isso mesmo, sou experiência de liberdade, de confronto, de solidão... Mas ensino que a liga necessária para reunir os pedaços, novos e velhos, é o amor, o carinho e o respeito. Somos livres para nos recriarmos infinitamente. E... como toda porta, ela precisa ser fechada. Pode demorar, mas o verdadeiro recomeço será quando sair daqui, quando a vida estiver diante de ti e aquelas portas e espelhos serem apenas lembranças do mundo que foi e do mundo que vem. Você deve se perguntar... e os pedaços que deixei para trás? Não se preocupe, a cada canto deste caminho ficam tudo aquilo que deixaram para trás. Vou guardando e usando como moldes para novos corredores, novas janelas, novos jardins. Não falei dos jardins? São os melhores lugares para olhar para si, pois não tem espelhos, apenas a infinitude. Fique no jardim até experimentar o quão grandiosa é a existência, o quão espetacular é cada formiguinha e cada sol. Sinta a brisa, ela trás conforto e lembranças. Chore o que tens que chorar. Sorria o que tens que sorrir. Depois crie, rodopie... Estabeleça de uma vez suas novas certezas e anseios. Aqui, ofereço a morte e um renascimento. Sinta-se a vontade no fim do mundo.
PS: Escrito em 19/08/2024