Por que o simbolismo?
Baralhos de Tarot, grupos de iniciação mágica, esoterismos, xamanismos... Meu círculo de amigos e conhecidos, físicos e virtuais, é repleto buscas por referenciais simbólicos, mesmo entre aqueles mais céticos ou distantes de religiões. Por que ler e praticar bruxaria quando não se tem nenhuma razão para acreditar na sua eficácia? Penso que parte de nossa alma precisa de símbolos para orientar seus desejos, afetos e decisões.
Explico minha loucura. Creio que parte de nós necessita de um arcabouço simbólico para conseguir fazer o mundo ter sentido. Não aquele sentido último do mundo que norteia nossa vidas, mas aquele sentido que nos faz abstrair certos símbolos, certas abstrações, e conseguir se relacionar com o mundo de uma maneira melhor. Em resumo, o Caos está ai, diante de nós, mas ele apresenta repetições não nomeadas. Nomeamos tais processos e repetições a partir dos símbolos que conhecemos. Damos ordem ao nosso Caos interior e conseguimos interpretar o Caos exterior.
Avançando na loucura... Na parte interior, temos 3 grandes modos de entender e educar o que se passa conosco. O pastoreio, a adestração, e a imitação. Tal qual um animal que pouco aprende mas que é capaz de habituar-se aos estímulos externos, parte do que somos também é assim. A sede, a fome, as paixões... Com esta parte, evitamos estar diante do que nos prejudica, e nos estimulamos a estar na presença do que nos faz bem. Uma ovelha é conduzida para onde tem comida, no tempo apropriado. O pastoreio é a imagem do que é conduzido. Algo em nós conduz esta parte, que é pastoreada de forma a beneficiar o todo ou não. A adestração é a arte daquilo que é capaz de aprender e internalizar certos conceitos, e a se relacionar com o mundo mediado por emoções. É necessário repetição, insistência, paciência na comunicação e exemplo do adestrador para que a adestração seja bem feita. A adestração é boa quando ela facilita o trato com a parte pastoreada. Um cão está ali para fazer com que as ovelhas se mantenham unidas e longe de perigo. Por fim, a imitação. Imitamos quando entramos em contato com outras almas, e como que copiamos seus processos, repetições e universo simbólico. É a cultura, por assim dizer. Seus perigos são os perigos de imitar um universo simbólico defectivo, ou seja, um universo em que os símbolos conduzem a uma relação consigo e com o mundo não tão boa assim.
Como a loucura sempre é infinda... Na parte exterior, temos 3 outros grandes modos de entender e ordenar o mundo. A intencionalidade, caoticidade e o redemoinho. Há aspectos exteriores que são intencionais, ou seja, outras consciências que fizeram com intenção de ser como é. Há a caoticidade, aqueles aspectos que não tem sentido nem rumo, o puro aleatório. E há o redemoinho, aquilo que é mecânico, sem intenção, porém tem processos ordenados que determinam direções e caminhos para os acontecimentos.
Cada arcabouço simbólico constrói seus símbolos a partir dessas formas básicas. Um simbolismo bom é quando tais construtos permitem boas interações com o mundo. No contrário, leva a problemas psicológicos difíceis de contornar. Por exemplo, quando atribuímos intencionalidade ao que é caótico, podemos recair em profundas paranoias incuráveis.